- 歌曲
- 时长
简介
O som ‘glocal’ de Xisto jornal Correio da Paraíba, 23 de novembro de 2013 Walter Galvão Um mundo sem letargia, repleto de acordos e convergências, com paisagens diferentes que se completam e formas livres integradas para compor um ambiente em que convivem o amor e o humor, a ironia e a crítica, o antigo e o futurível: eis uma certeza possível que fica para quem ouve o novo CD do cantor, compositor e instrumentista Xisto Medeiros, Black Xistus. Neste segundo trabalho (Prana, o primeiro, é de 2010), que chega ao público com selos da Chita Discos, do músico Chico César, e da UFPB, Xisto aprofunda e fixa algumas das principais características de sua linguagem. É possível definir essa linguagem como uma trama rítmico-melódica alimentada em seu conteúdo nuclear pelas possibilidades combinatórias de uma abordagem interdiscursiva, com pontes para uma diversidade enorme de soluções expressivas, formais. E o “argumento” desse núcleo é dotado de um envoltório de citações, referências, “cacos” imaginativos, texturas e soluções que remetem tanto à forma-sonata da chamada música erudita como ao sistema modal das cantorias nordestinas. Um ciclo virtuoso se estabelece em Black Xistus. Dele participam alguns dos mais expressivos alquimistas, inventores, provocadores, iconoclastas e poetas da música contemporânea brasileira, nomes como Lenine e Chico César, Totonho e Zeca Baleiro. Além de novos artistas que ampliam o brilho de um trabalho que tem muito de festa e de mobilização, com aberturas para conexões e espelhamentos entre ostinatos e riffs, em espaços de temporalidades diferentes. Vejamos o caso da faixa “Birdland”, clássico de Joe Zawinul, que para um tipo de público resgata um favo de mel da história do jazz nos Estados Unidos, o clube que no pós-guerra, século XX, fez de Manhattan a Meca musical para quem curtia o som de jovens do nível de Charlie “Yardbird” Parker, Thelonious Monk, Miles Davis... Peça que para o público atual funciona como a exibição do melhor do gênero sob o controle de músicos de altíssimo nível. Ocorre em “Birdland” uma levada cerebral sem ser esquemática, ao contrário do esquema leve e divertido que nos conduz a Campina Grande na música “No meu Chevette, não!, em que Lucy Alves e Clã Brasil elaboram com Xisto uma delícia regionalista que soa própria para a cena pop da Nova York multi-étnica de hoje. Na abertura do CD, uma fotografia performática do poder realizador do baixista Xisto. Em “Bassist’s Opus” o músico empreende uma jornada em que expõe seu conhecimento retórico e semântico do instrumento com uma fraseado límpido, ataques flamejantes e recorrências dinâmicas que expõem uma agilidade de causar espanto e um domínio timbrístico que enche de luz o som. Destaque para o sistema minimalista, com um combo que lembra a simplicidade genial de Luiz Gonzaga, da canção “Menino amarelo” em que Chico César dá um show de interpretação brincando com os fluxos e nexos da prosódia nordestina. Afro-jazz, bossa-funk, latin-baião-hip-hopeado e outras misturas fazem o caldo delicioso desse manifesto “glocal” de Xisto, black música para todas as cores e locais no tubo da onda da globalização.