Diaspora.pt

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  • 流派:Classical 古典
  • 语种:英语
  • 发行时间:2008-01-01
  • 类型:录音室专辑

简介

… though the title doh promise tears, unfit guests in these joyful times, yet no doubt pleasant are the teares which musick weeps, neither are tears shed always in sorrow, but sometimes in joy and gladness. Vouchsafe then your gracious protection to these showers of harmony (…) they be metamorphosed into true tears... ... embora o nome prometa lágrimas, convidadas pouco aprazíveis nestes tempos de alegria, são sem dúvida agradáveis as lágrimas que a música chora, nem sempre vertidas em tristeza mas também em alegria. Permita a vossa graciosa protecção a estes aguaceiros de harmonia que sejam metamorfoseados em verdadeiras lágrimas.* Dowland John Dowland (?1563-1626) * trad. livre Filipe Faria, voz e direcção musical Sérgio Peixoto, voz e direcção musical Rosa Caldeira, voz António Zambujo, voz e guitarra Pedro Castro, flautas de bisel e oboé barroco Inês Moz Caldas, flautas de bisel Denys Stetsenko, violino barroco Eurico Machado, guitarra portuguesa Duncan Fox, violone Hugo Sanches, tiorba, alaúde e vihuela Tiago Matias, guitarra barroca, guitarra romântica e tiorba Fernando Marques Gomes, percussão “Estou tão concentrado com a música do órgão Que a minha imaginação vagueia pelo mundo …” (Wu Yushan, missionário jesuíta na China no séc. XVII1) Sons, imaginação, viagem. Três operadores do universo criativo da diáspora portuguesa que deram origem a um vasto reportório – em grande parte ainda desconhecido. Deles nasceram novas galáxias sonoras, espalhadas pelas sete partidas, conhecidas por música e por tantos e diferentes nomes. Sons de vozes, de instrumentos, do sino “que desperta o sonho dos monges”2. Sons de reinóis, de merdejkas, de cafres, de malaios, de uma paleta humana sem precedentes na história da humanidade. No séc. XV Portugal encetou um empreendimento de insuspeitas consequências no domínio das práticas performativas em muitas culturas do planeta. Em Portugal, para começar: as novidades trazidas pelos navegadores, pelos gentios de outras paragens, pelos migrantes que em Lisboa se estabeleceram, não tardaram em se manifestar musicalmente e originar formas e géneros musicais mesclados. De muitos não temos senão notícia. De alguns, porém, restaram documentos que permitem uma reconstituição, e nos fazem pasmar pela modernidade e pelo tamanho do que alcançam. Não? Ouçam-se os vilancicos negros do séc. XVII que em Santa Cruz de Coimbra aguardaram séculos por uma nova oportunidade3. Consequências noutras paragens, também. Em primeiro lugar pela forte impressão que a música levada pelos portugueses causou em tantos homens de tantas e tão apartadas culturas. Também, pelo cadinho de criatividade musical que o contacto entre culturas proporcionou, do qual resultaram géneros que marcaram profundamente nações inteiras em distantes paragens. Não? Que dizer então do Kroncong, de portuguesa influência, um dos mais populares géneros na Indonésia do séc. XX? A música litúrgica, transportada por missionários de diferentes ordens religiosas, foi praticada nas igrejas do Brasil, no padroado do Oriente, mais tardiamente nas missões em África. Da sua prática conhecemos registos: partituras, regras de uso de géneros e instrumentos, etc. O ensino desta música foi intensamente praticado em colégios e seminários fora de Portugal, sabendo-se que inúmeros foram os clérigos nativos dessas regiões que aprenderam as regras da música litúrgica, e as adoptaram e adaptaram ao uso local. No domínio da música profana, e por se tratar na maioria dos casos de tradições orais, é menor o conhecimento dos processos de contacto entre Portugal e outras regiões do mundo. Que ele se estabeleceu, e em importantes dimensões, não há que duvidar. Contudo, e com algumas excepções no Brasil onde processos de continuidade são evidentes, os modos e produtos encontram-se em muitos casos por esclarecer. Está para além de dúvida que a configuração de reportórios e géneros, em Portugal e fora, resultou de processos de contacto: entre outros, o fado e a morna constituem exemplos paradigmáticos. Esclarecer estes processos é um projecto que aguarda por um maior empenho da musicologia. A língua portuguesa constituiu uma plataforma para os processos de criação de géneros e reportórios de contacto. Quer na sua configuração europeia, quer em outras que se foram constituindo no Brasil, em África, ou no Índico (Português do Brasil, Caboverdiano, o Papiá Kristang de Macau, ou até o Portugis Tugu de Jakarta), a língua foi um veículo privilegiado para o desenvolvimento de afinidades e contrastes; importantes sob o ponto de vista dos significados e das temáticas (a saudade que invade tantos géneros), e sob o ponto de vista das formas poético-musicais. Afinal, a música não é senão um produto de contactos, muitos, resultantes de um ímpeto muito próprio da humanidade: o da viagem. Quiseram os caprichos da história, e os devaneios de muitos dos seus actores, que a viagem se tornasse na grande quimera portuguesa. A música que ouvimos neste disco representa um pouco da fantasia dos seus viajantes. João Soeiro de Carvalho Universidade Nova de Lisboa/Instituto de Etnomusicologia 1 Com o nome português de Simão Xavier da Cunha. Wu Yushan foi pintor e poeta. Ver Wenquin, Zhang (1997) “Os poemas de Wu Yushan sobre o Cristianismo”. Revista de Cultura de Macau, 30 (2ª série) Janeiro/Março: 60-96. 2 Ib. 3 Estes vilancicos foram recentemente gravados pelo Coro Gulbenkian, dirigido por Jorge Matta (Portugaler, DDD 1016-2 SPA, 2007). JOÃO GOBERN REVISTA SÁBADO (253), 11.02.2009 # CRÍTICA Atrás para seguir em frente: É um caso de paixão à primeira vista: as vozes superiores, as guitarras condutoras, a percussão comedida vão criando espaços para a recuperação de uma série (sublime) de temas da música antiga, juntando-lhe uma viagem por pontos fulcrais da diáspora portuguesa - daí o título. De Macau a Cabo Verde, do Brasíl a Timor, sem esquecer a própria "produção" ibérica, o percurso é fascinante, tanto pela variedade como pelo cuidado posto na recolha e na transposiçao. Um belo exemplo no tratamento do património. ROBERT LEVETT INTERNATIONAL RECORD REVIEW, FEBRUARY 2009 # CRÍTICA Kleine Musik New! Moody Anima mea liquefacta est. Eile mich, Gott, zu erretten. Die Furcht des Herren a 2. Habe deine Lust an dem Herren. Herr, ich hoffe darauf. Ihr heiligen, lobsinget dem Herren. Meister, wir haben die ganze Nacht gearbeitet. O misericordissime Jesu. Verbum caro factum est a 2. Schütz Anima mea liquefacta est, SWV263. Adjuro vos, filiae Hierusalem, SWV264. Eile mich, Gott, zu erretten, SWV282. Ihr heiligen, lobsinget dem Herren, SWV288. O misericordissime Jesu, SWV309. Habe deine Lust an dem Herren, SWV311. Herr, ich hoffe darauf, SWV312. Verbum caro factum est, SWV314. Meister, wir haben die ganze Nacht gearbeitet, SWV317. Die Furcht des Herren, SWV318. Sete Lágrimas (Ana Quintans, soprano; Filipe Faria, tenor; Inês Moz Caldas, flute/recorder; Pedro Castro, flute/oboe; Kenneth Frazer, viola da gamba; Duncan Fox, violone; Hugo Sanches, theorbo)/Sérgio Peixoto (tenor/harpsichord). MU Records MU0102 (full price, 1 hour 2 minutes). German and Latin texts included. Website www. murecords.com. Producers Filipe Faria, Sérgio Peixoto, Ivan Moody. Engineer João Diogo Pratas. Dates October and December 2007. "Kleine Musik" is a record of responses: by two composers to the same texts; by one composer to the music of another; by composer to performer; by performer to composer, music and text. The multiple intersections blaze up into a delicately powerful coalescence. Heinrich Schütz (1585-1672) was the most important German composer of the seventeenth century, his studies in Venice, first with Giovanni Gabrieli and later with Monteverdi, resulting in a sureness and originality of style that would be equalled only in the later Baroque. Of the 13 printed collections of Schütz¹s music published during his lifetime, four are devoted to smaller-scale sacred chamber music: the Kleine geistliche Konzerte and the first two volumes of the Symphoniae Sacrae. The majority of the works by Schütz on this disc are drawn from the former, with only Anima mea liquefacta est and Adjuro vos, filiae Hierusalem coming from the latter. In 2007 the present performers, Portuguese early and contemporary music ensemble Sete Lágrimas, commissioned the British composer (and regular IRR contributor) Ivan Moody (b.1964) to set the same texts as Schütz. As Moody says in a brief booklet note, "I invariably looked in detail at Schütz¹s settings. The musical ambience is frequently very different... but I feel nevertheless very strongly that there is a firm link between the 17th century Lutheran German and this 21st century Greek Orthodox Englishman." The instrumentation is similar throughout: either a solo soprano or two tenors with continuo (violone and theorbo) and various obbligato parts for recorders, oboe or gamba. Only in Verbum caro factum est and Die Furcht des Herren does Moody provide a purely instrumental setting (for harpsichord). Significantly, the corresponding texts (John 1:14 and Psalm 111:10) are two of only four on the disc that aren¹t concerned with some kind of deliverance, the preponderance of which theme in Schütz¹s settings is understandable given he was writing these works during the Thirty Years War. Schütz¹s settings are thoroughly Italianate: florid, declamatory and highly expressive; Moody¹s owe much more to the melismatic style of Orthodox chant and to the spare angularity of Medieval polyphony, seasoned by dissonance and a smooth contemporary idiom that is both haunting and sensual. The works which begin and end the disc represent the two stylistic extremes: the urgent soprano recitative of Schütz¹s Eile mich, Gott, zu erretten (Psalm 70) and Moody¹s highly melismatic, dissonant Habe deine Lust an dem Herren (Psalm 37) for two unaccompanied tenors. In between, much terrain is covered, from Moody¹s mysterious-sounding setting of Luke 5:5, Meister, wir haben die ganze Nacht gearbeitet for two tenors, oboe, recorder and continuo, and his frankly beautiful Augustine setting O misericordissime Jesu for soprano and continuo to Schütz¹s own ultimately joyful setting of Habe deine Lust an dem Herren for two tenors and continuo and the optimistic Ihr heiligen, lobsinget dem Herren (Psalm 30) with its dancing recorders. Tenors Filipe Faria and Sérgio Peixoto (who together comprise Sete Lágrimas proper) sing with lightness, clarity and a great deal of expressive power, given the modest scale of these compositions. Ana Quintans¹s pellucid soprano is likewise ideal for this repertoire. The instrumental ensemble nicely amplifies the meaning of the texts through subtle and imaginative phrasing and articulation (especially so in the case of violone player Duncan Fox). Well recorded and tastefully packaged, "Kleine Musik" blurs the boundaries between old and new in a way that¹s reminiscent of the best of religion and art. RUI PEREIRA PÚBLICO, 6.02.2009 # CRÍTICA Diáspora portuguesa Um agrupamento português ombreia com prestigiados grupos de música antiga internacionais Diaspora.PT Sete Lágrimas Filipe Faria e Sérgio Peixoto, Direcção 1CD MU0103 Finalmente! Um agrupamento português toma como ponto de partida o riquíssimo repertório ibérico da música antiga, predominante português, e parte para uma ilustração musical de diáspora portuguesa à imagem do que têm feito outros ensembles estrangeiros de renome. Sem qualquer tipo de complexos, a ombrear mesmo com grupos de relevo, este projecto artistico do agrupamento Sete Lágrias é uma celebração musical delirante, feita com puro deleite. A escolha de repertório é belíssima, denotando a forte origem popular das diferentes paragens. Para além de diversos vilancicos, da morna, do ludum, de música de Macau, Timor, Cabo Verde, Ìndia, Brasil e México, para além da Península. Os músicos, dos quais destaco as assertivas percussões e guitarras, as surpreendentes vozes masculinas e as sonoridades encantadoras da flauta e do oboé barroco, estão em perfeita sintonia e contornam estilos diversos com grande mestria. A comparação com outros projectos artísticos torna-se inevitável, como é o caso da peça ‘’Olá zente que aqui samo’’ que nos lembra o recente registo de La Arpeggiata com os King Singers (principalmente pelo estilo vocal), com as incursões nas músicas das colónias portuguesas um pouco á imagem do que Saval tem feito com artistas da ‘’world music’’. M.A.G JL JORNAL DE LETRAS, ARTES E IDEIAS, JANEIRO 2009 Diaspora.pt: Sete Lágrimas, de Filipe Faria e Sérgio Peixoto, CD MU Records, 62'53'' Mais de cinco séculos de diáspora, de cruzamento de culturas e práticas musicais e o cuidado do projecto Sete Lágrimas, dos tenores Filipe Faria e Sérgio Peixoto, podem fazer deste disco um dos melhores exemplos da “world music” e levar o conceito ao extremo, quanto mais não seja pela dimensão espaço-temporal que o caracteriza. Mas Diaspora.pt merece mais do que um rótulo – merece o reconheciemnto da investigação que o sustenta, da totalidade que está na sua base e mantém viva a dinâmica de interacção musical entre Portugal e o mundo. O programa atravessa mais de 500 anos de música, dos Vilancicos negros do século XVI-XVII, vindos dos manuscritos de Santa Cruz de Coimbra, as expressões tradicionais como o Chorinho Brasileiro, as Mornas e Coladeiras, nas quais permanece o legado. O disco vai do Brasil a Macau, da Índia a África, da Europa e Timor, cruzando épocas, instrumentos, linguagens e estilos musicais que demonstram a universalidade da demanda e da cultura que lhe deu origem. Passo a passo, sucedem-se tesouros e revelações, todos tão raros e fascinantes como a pequena peça instrumental de Damião de Góis ou a lírica de Camões, sobre ricercada de Diego Ortiz, todos tão fortes e delicados como os vilancicos de Gaspar Fernandes ou as canções de Eugénio Tavares e Manuel Machado. A atracção do disco reside igualmente na qualidade dos intérpretes: além de Filipe Faria e Sérgio Peixoto, Rosa Caldeira (voz), Pedro Castro (oboé barroco e flauta doce), Inês Moz Caldas (flauta), Denys Stetsenko (violino barroco), Eurico Machado (guitarra portuguesa), Hugo Sanchez (alaúde), Tiago Matias (guitarras e tiorba), Duncan Fox (violone) e Fernando Marques Gomes (percussão). TIME OUT, JANEIRO 2009 # CRÍTICA Diaspora.pt MU Na linha de alguns discos recentes de Jordi Savall, como Diáspora Sefardi, Paraísos Perdidos ou A Rota do Oriente, em Diaspora.pt o ensemble português de música antiga Sete Lágrimas propõe um itinerário pelo tempo e pelo espaço – neste caso o fio condutor é a expansão da língua e cultura portuguesas pelo mundo, decorrente dos Descobrimentos, e a sua miscigenação com as tradições dos povos “descobertos”. Tal como tem acontecido nos referidos discos de Jordi Savall, o Sete Lágrimas não só aproxima tradições musicais de diferentes culturas como esbate a distinção entre músicas de proveniência erudita e música de origem popular. O CD inclui vários vilancicos dos séculos XVI e XVII compostos quer em Portugal, quer além-mar, e dois deles fazem parte da colecção de “vilancicos negros” ou “negrillas” do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que foi recentemente alvo de gravação pelo Coro Gulbenkian. O Sete Lágrimas escolhe uma abordagem radicalmente diversa do Coro Gulbenkian: recorre apenas a duas vozes e dá proeminência às cordas dedilhadas e percussão. JORGE LIMA ALVES EXPRESSO, ACTUAL, 13.12.2008 # SUGESTÕES DE NATAL Sete Lágrimas Diaspora.pt MU Para “cantar” a diáspora portuguesa o grupo Sete Lágrimas (dirigido por Filipe Faria e Sérgio Peixoto) juntou as vozes de Rosa Caldeira e do fadista António Zambujo. A obra resultante propõe uma belíssima viagem no tem e no espaço através de vilancicos do século XVI, chorinhos brasileiros e mornas cabo-verdianas, a par de música tradicional de Macau, Goa ou Timor. Uma prenda inestimável! CRISTINA FERNANDES PÚBLICO, 14.11.2008 # CRÍTICA Revelações do Barroco em Portugal
 Ciclo Música em São Roque
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 Sete Lágrimas Consort “Pedra Irregular – O nascimento do Barroco em Portugal”
Lisboa, Igreja de São Pedro de Alcântara, 9 de Novembro, às 17 h.
Igreja cheia
 Vocacionado para a música antiga e contemporânea, o Sete Lágrimas Consort constitui um dos mais interessantes projectos surgidos em Portugal, nos últimos tempos, conforme se pode comprovar através de dois CD já editados (Lachrimae #1 e Kleine Musik), aos quais se seguirá, em breve, Diaspora.pt. Dirigidos pelos tenores Filipe Faria e Sérgio Peixoto, o grupo apresentou no ciclo Música em São Roque um criterioso programa intitulado “Pedra Irregular – O Nascimento do Barroco em Portugal”. De Diogo Dias de Melgaz, um dos últimos vultos da Escola de Évora, a António Teixeira e Francisco António de Almeida (bolseiros em Roma a expensas de D. João V), passando por Henrique Correia, Carlos Seixas e Scarlatti, foi traçado um percurso com algumas das mais belas obras escritas entre os finais do século XVII e meados do século XVIII.
O repertório sacro apresentado foi concebido para coro (com ou sem solistas) e baixo contínuo, mas o Sete Lágrimas interpretou-o apenas com três cantores, atribuindo algumas das restantes partes a instrumentos (oboé e violino barroco) e contando com um grupo de baixo contínuo generoso (violoncelo, duas tiorbas e cravo). Algumas obras vocais (de Melgaz, Teixeira e Almeida) foram tocadas apenas em versão instrumental e as restantes foram objecto de combinações vocais e instrumentais variadas, que permitiram acentuar os contrastes da textura musical e obter ambientes tão diversos como o intimismo contemplativo da Lamentação, de Almeida, ou a exuberância italianizante dos Responsórios de Carlos Seixas, do Responsório Si quaeris miracula ou do Motete Justus ut palma florebit, de Almeida.
O colorido que se ganhou desta forma mostrou facetas que outras interpretações deixam na sombra. Mas se o resultado foi revelador, esta atitude é susceptível de algumas reflexões musicológicas. Várias destas peças foram certamente cantadas na Patriarcal de D. João V, que contava com um coro de italianos de alto nível e cultivava um cerimonial monumental, mas também não é impossível que tivessem sido feitas com uma voz por parte noutros locais (prática documentada em Portugal nas décadas seguintes). O uso de um conjunto vocal mais amplo seria talvez mais fidedigno, mas os Sete Lágrimas não se definem como um grupo filiado nas “interpretações historicamente informadas” no sentido convencional, embora tenham formação nessa área. Preferem apostar na experimentação e na recriação do repertório, de resto uma tendência cada vez mais comum também a nível internacional.
Com timbres de cores suaves, as vozes de Filipe Faria e Sérgio Peixoto combinaram-se com elegância e bom gosto e a soprano Mónica Monteiro teve uma prestação de crescente eloquência que culminou nas páginas de Almeida, precisando apenas de aperfeiçoar alguns detalhes nas passagens mais virtuosísticas. A clareza de fraseados do oboé de Andreia Carvalho, num sugestivo diálogo com o violino de Denys Stetsenko, e um grupo de contínuo que nunca incorreu na monotonia completaram um trabalho de conjunto de grande consistência técnica e artística. CRISTINA FERNANDES PÚBLICO, ÍPSILON, 20.06.2008 # ARTIGO
 "Fazer voar a música 
O que têm em comum um compositor luterano do barroco alemão e um ortodoxo grego do século XXI? No seu segundo CD o grupo Sete Lágrimas quis mostrar como as músicas de Schütz e de Ivan Moody se iluminam mutuamente. Desde que começaram a cantar juntos, há dez anos, a música de Henrich Schtz (1585-1672) tornou-se companhia para Filipe Faria e Sérgio Peixoto. Estes dois tenores do Coro Gulbenkian tinham como ambição fazer um projecto livre de algumas convenções decorrentes da formação musical clássica do conservatório. Queriam abordar a música antiga, a contemporânea e repertórios de fronteira (entre o erudito e o popular) e emancipar-se da página escrita, pois a partitura é apenas o suporte. Criaram em 2000 o grupo L'Antica Música, que tomou o nome de Sete Lágrimas em homenagem ao ciclo de sete danças Lachrimae (Lágrimas) de Jonh Dowland (c.1563-1626) e ao espírito que percorre a sua música. No início, o percurso parecia semelhante ao de outros grupos de música antiga. "Havia receio de arriscar num meio fechado como o português", confessam ao Ipsilon Filipe Faria e Sérgi Peixoto. "Tinhamos ideias, mas quando chegava a altura de as mostrar acabávamos a fazer a oratória de Carissimi ou outro repertório instituído".

Foi há três anos que as coisas começaram a mudar. Em Março de 2007 lançaram o primeiro CD ("Lachrimae #1), na etiqueta Murecords criada pela Arte das Musas (empresa com actividade nas áreas da Cultura, Arte e Comunicação dirigida por Filipe Faria), e há semanas colocaram no mercado o seu último trabalho ("Kleine Musik"), onde prestam homenagem a schütz através do olhar contemporâneo de Ivan Moody (n.1964), compositor britânico residente em Portugal, que convidaram a compor sobre os mesmos textos usados pelo grande compositor alemão.

"Schutz era o compositor que melhor se adaptava à nossa maneira de cantar e de ver a música", conta Sérgio Peixoto. "Estudámos os "Pequenos Concertos Espirituais" e descobrimos sempre coisas maravilhosas, não só a nível musical mas também interpretativo. A ilustração musical do texto não é tão imediata como em Monteverdi ou nos italianos da mesma época, mas depois de a trabalharmos em profundidade está lá tudo, é impressionante", explica Filipe Faria. "Dizemos muitas vezes: Schutz nunca nos enganou". O italiano extrovertido e o intimismo alemão Os dois tenores já tinham cantado várias obras de Ivan Moody e a ideia de o convidar a participar foi consensual. O projecto começou a ser delineado há dois anos e foi posto em prática com o apoio do Ministério da Cultura, que elogiou a sua originalidade conceptual. Também a visão de Schutz de Ivan Moody se encontra próxima da dos directores musicais do Sete Lágrimas. "A música de Schutz é uma belíssima mistura do italiano extrovertido com o intimismo alemão, que tem a ver com a escala mais reduzida dos meios que ele tinha à disposição depois da guerra dos 30 anos", diz o compositor. "Trata o texto com uma abordagem muito pessoal. Há uma profundidade teológica no pensamento de Schutz que concilia ao mesmo tempo a seriedade e o fascínio perante a criação e a alegria, coisa que só se percebe depois de entrar a fundo na sua música. Isto diz-me muto porque são coisas que também sinto – uma alegria teológica. "Ivam Moody é membro da igreja ortodoxa grega e identifica essa atitude com a sua fé. Além dos textos, a proposta tinha outras condicionantes como o uso de instrumentação semelhante à escolhida para as obras de Shutz, que se destinam a vozes e baixo contínuo. " Tal como Stravinsky, acredito que as limitações podem fazer uma peça florir, se alguém nos dá o dinheiro e uma folha de papel em branco, sem nada de onde partir, caímos no vazio", diz Moody. "Olhei para as partituras de Schutz para absorver o ambiente e depois usei a minha linguagem." A natureza dos meios também não foi um problema pois Moody está habituado a escrever para grupos que se dedicam à música antiga e contemporânea, como o Hilliard Ensemble ou o Taverner Consort, e também tem usado instrumentos antigos. "Já fiz peças para "consort" de violas da gamb, mas nunca tinha escrito para tiorba ou oboé barroco. O som destes instrumentos é fantástico. A maneira como a tiorba pode preencher o espaço harmónico como faz na música barroca foi para mim uma coisa delirante." Abordagem contemporânea O projecto teve ainda outra convidada: a soprano Ana Quintans. "Estávamos a actuar com o Coro Gulbenkian e de repenta entra uma jovem soprano portuguesa para cantar a Missa em Dó menor de Mozart", conta Filipe Faria. "Fizemos-lhe o convite para colaborar com o Sete Lágrimas logo nessa noite e foi aceite. Ana Quintans já não está só limitada às nossas fronteiras, é um assombro de musicalidade e de seriedade. Nunca tinha abordado este repertório, mas deixou-nos sem palavras durante a gravação." Do ponto de vista interpretativo Filipe e Sérgio tiveram com a música de Schutz e de Ivan Moody uma atitude semelhante: uma aproximação à partitura que parte da recriação. Por exemplo: duas das peças do compositor britânico são interpretadas no cravo embora tenham sido escritas para vozes adoptando um processo similar ao que se fazia com a música do século XVII. "A formação musical clássica incita-nos a ter respeito pela partitura mas fomos aprendendo a libertar-nos. A partitura é apenas um suporte, serve para tentar perceber o que o compositor diz mas também para descobrir o que queremos fazer com a música", refere Sérgio Peixoto. O Sete Lágrimas pretende uma abordagem contemporânea e uma ligação à identidade sonora do grupo. "Uma dúvida essencial desde o princípio era: será que isto passa como som do grupo? Mas a verdade é que isso tem vindo a ser reconhecido." A criatividade para além da partitura e a combinação de repertórios de fronteira fervilhava há muito nas mentes dos dois cantores, mas só há poucos anos começaram a arriscar. Agrupamentos que admiram, como L'Arpeggiata de Christina Pluhar, Accordone de Marco Beasley e Guido Morini ou Les Fin'Amoureuses, serviram de incentivo. "Não é uma questão de os imitar, mas sentimos uma atitude semelhante perante a música", explica Filipe Faria. "Convidámos, por exemplo, para o Festival Terras sem Sombra (que a Arte das Musas organiza) um coro para interpretar música sacra de carácter popular do eixo latino-mediterrânico e em Novembro vamos lançar um novo CD, "Diaspora. PT". Aí a loucura será total". Novos projectos Sérgio e Filipe gostavam que esse novo projecto"viesse mudar a mentalidade fechada que existe em Portugal". "Temos intérpretes muito bons que fazem música antiga de acordo com as práticas de execução históricas e gostamos muito de ouvir, mas não é essa a nossa intenção", diz Filipe. Em "Daspora .PT" evocam-se repertórios influenciados pela música portuguesa no mundo. "Começamos em Portugal com Vilancicos de Negro (género coral que utiliza várias línguas e dialectos de influência mestiça), passamos por Cabo Verde com a morna, por Goa, Macau, Timor, o México e o Brasil. A ideia da diáspora tem ramificações: o português que saiu para a América do Sul no século XVI e que compôs baseado nas tradições orais que recolheu, mas também os músicos que em Portugal se inspiraram em fórmulas novas que ouviam interpretar aos escravos africanos", explica Sérgio. "Teremos também músicos convidados, como o fadista António Zambujo." Filipe acrescenta que "não é um projecto musicológico, mas totalmente estético e conceptual" que implicou meses de trabalho sobre as partituras: Recriámos do primeiro ao último compasso todas as peças." O objectivo foi criar uma abordagem pessoal do Sete Lágrimas e não uma aproximação idiomática a cada um dos géneros. "Não queríamos imitar, mas recriar. Nos ensaios usámos adjectivos e metáforas para transmitir as nossas ideias aos músicos. Lembro-me sempre do maestro Frans Bruggen que nos dirigiu tantas vezes no Coro Gulbenkian. Ele faz poucos gestos quando dirige, mas quando ensaia usa adjectivos que fazem voar a música de Bach, nós tentámos fazer voar estas músicas", diz Filipe Faria. À "Diaspora.PT" vai seguir-se outro CD em 2009, "Silêncio". São três olhares de compositores sobre a Bíblia: o de Ivan Moody que é ortodoxo grego, o de [João Madureira] que é católico e o de Christopher Bochmann que é anglicano protestante. Cada compositor fará música sobre a herança erudita e popular da sua própria linguagem e experiência", conta Filipe Faria. "Será mais uma aventura que promete quebrar fronteiras". TIME OUT, SETEMBRO 2008 # CRÍTICA Kleine Musik MU Na década de 1630, com a Alemanha arrasada pela Guerra dos Trinta Anos, Heinrich Schütz (1585-1672) viu-se forçado a canalisar o seu génio para obras conformes àqueles tempos de penúria e compôs os dois livros de Kleine Geistliche Konzert (Pequenos Concertos Sacros) reunindo 55 peças destinadas de uma cinco vozes e baixo contínuo, em que a magreza dos efectivos e a ausência de magnificência é contabalançada por sublime expressividade. 370 anos depois, o grupo Sete Lágrimas encomendou a Ivan Moody (n. 1964), compositor britânico residente em Portugal, peças sobre os mesmos textos a que Heinrich Schütz recorrera e empregando efectivos semelhantes, e registou no mesmo disco, em alternância, as obras do século XVII e os seus reflexos do século XXI. O resultado é um diálogo admirável, com muito mérito para Moody, que consegue estar em sintonia com o espírito de Schütz sem cair num neo-barroquismo espúrio. Os tenores Filipe Faria e Sérgio Peixoto, que lideram o ensemble, e a soprano Ana Quintans, dão provas de engenho e arte (...). A gravação é clara e confere presença sólida a vozes e instrumentos. M.A.G. JL JORNAL DE LETRAS, ARTES E IDEIAS, 13-26 AGOSTO 2008 "A Grande Música 

O maior compositor alemão do Barroco intermédio, Heinrich Schutz, os seus Pequenos Concertos Espirituais (Kleine Geistliche Konzerte), a revisitação dessas peças por um compositor britânico contemporâneo há muito fixado em Portugal, Ivan Moody, e o projecto, bem amadurecido, dos tenores Filipe Faria e Sérgio Peixoto, Sete Lágrimas. O conjunto dá origem a um dos mais belos discos de edição nacional, surgidos nos últimos anos.
O grupo Sete Lágrimas nasceu há cerca de uma década como o nome L,Antica Musica. Formado por dois cantores do Coro Gulbenkian, surgiu com o objectivo de ultrapassar barreiras mais ou menos convencionadas entre diferentes repertórios, fossem de música antiga ou contemporânea, ou mesmo testemunho de diferentes "diásporas", como futuros projectos discográficos o atestam. Sucederam-se assim anos de trabalho e de concertos, até ao momento em que editaram o primeiro disco, Lachrimae # 1. Foi em 2007, quando Filipe Faria e Sérgio Peixoto já tinham adoptado a designação Sete Lágrimas, a partir das sete variações Lachrimae, de John Downland, sobre Flow my Tears. O programa do primeiro disco demonstrava a atitude única do agrupamento. Obras de Giovanni Martini, Corelli e Schutz, a par de salmos protestantes franceses, com quase dois séculos de distância entre si, cruzavam universos e modos de vida, cuja soma parecia revelar um sentir comum - uma dor que não podia deixar de ser comum -, no confronto que dividia a Europa entre os diferentes credos. O novo disco impõe mais uma vez o "desassossego". Dos cerce de 50 Pequenos Concertos Espirituais de Heinrich Schutz, incluídos nos volumes de 1636 e 1639, nove deles são revisitados pelo compositor contemporâneo Ivan Moody, que não só conhece as características muito próprias da música antiga, como sabe da convicção necessária para compr música sacra - nenhuma simulação é possível, perante si mesmo e muito menos perante a verdade de Schutz.
Os Pequenos Concertos Espirituais surgiram em plena Guerra dos 30 anos. Usam várias fontes, do Antigo Testamento a Santo Agostinho. Os textos (e os instrumentos de época) são retomados por Ivan Moody, como num "jogo de espelhos", conforme confessa na apresentação do CD: Reflectir como num espelho era ideia central deste projecto, devendo estar presente que todos os espelhos distorcem". E essa é a grande lição deste disco, o que o transforma em algo único e magnifíco. O idioma do britânico ortodoxo - facto bem patente na sua obra sacra - em tudo difere, como é óbvio, da expressão do genial compositor luterano seiscentista. No entanto, parafraseando Moody e a sua citação de São Paulo aos Coríntios, que "ponto de chegada" poderá ser mais rico "do que o esforço de reflectir e complementar um Mestre, como através de um espelho, em enigma?" 
As vozes de Sérgio Peixoto, Filipe Faria e, em particular, da soprano Ana Quintans materializam as melhores respostas, acompanhadas por Inês Moz Caldas (flauta de bisel), Pedro Castro (flauta e oboé barroco), Kenneth Frazer (viola da gamba), Duncan Fox (violone) e Hugo Sanchez (teorba). Juntos fazem com que a música corra, expressiva, exigente, atenta ao pormenor, à eloquência imposta pelo mestre e pelo próprio enigma. CRISTINA FERNANDES PÚBLICO, ÍPSILON, 20.06.2008) 
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 "Jogo de Espelhos 
O segundo CD do agrupamento Sete Lágrimas combina a espiritualidade do barroco alemão com o olhar contemporâneo.

Kleine Musik, Sete Lágrimas Consort, Filipe Faria e Sérgio Peixoto (tenores, cravo e direcção), Ana Quintans (soprano), Murecords MU0102 Depois de uma estreia discográfica auspiciosa com "Lacrimae #1", o agrupamento Sete Lágrimas acaba de lançar mais uma gravação de grande consistência artística e conceptual. "Kleine Musik" combina uma selecção de peças extraídas dos "Pequenos Concertos Espirituais", de Henrich Schutz (1575-1672), com obras compostas para o grupo sobre os mesmos textos por Ivan Moody (n.1964), num deliberado jogo de espelhos.
A combinação entre música antiga e contemporânea pode encontrar-se em vários projectos discográficos internacionais, mas tem sido bastante rara no contexto português. "Kleine Musik" não é apenas uma conjugação de universos cuidadosamente estudada, onde a música de Schutz serve de inspiração ao olhar contemporâneo de Ivan Moody através de um reflexo de processos criativos que usam diferentes linguagens. É também uma justa homenagem a Schutz, um dos maiores compositores da história da música, que tem estado quase sempre ausente dos programas de concerto em Portugal, mas que faz parte do repertório do Sete Lágrimas desde o início da sua actividade. Se os pequenos trechos do compositor alemão incluídos no primeiro CD se encontravam entre as interpretações mais conseguidas dos tenores Filipe Faria e Sérgio Peixoto, neste segundo trabalho confirma-se a sua afinidade com a estética do compositor alemão e com a sua expressividade profunda e intimista. As suas vozes fundem-se bem ao nível do timbre e nota-se uma sintonia cuidada dos fraseados e das intenções retóricas, bem como uma cumplicidade eficaz com a componente instrumental, a cargo de intérpretes experientes no âmbito da música antiga.
As faixas mais impressionantes do disco devem-se, porém, à interpretação de Ana Quintans, pelo seu elevado nível técnico, pelo brilho vocal e pela força emocional. A soprano, que tem feito carreira internacional no repertório barroco, soube também adaptar-se ao universo menos familiar de Ivan Moody – ouça-se, por exemplo, "O Misericordissime Jesu", na faixa 12.
Este compositor britânico, a residir em Portugal Há vários anos, tem escrito outras obras com instrumentos antigos, conhecendo bem os seus recursos e especificidades. A sua estética não procura o radicalismo, nem tem a obsessão da vanguarda. Mostra antes um certo despojamento, mesmo quando od processos de composição são mais intrincados, e a captação de uma atmosfera onde a espiritualidade é um elemento bem presente. A transição entre o antigo e o novo pode ser uma tarefa arriscada mas neste caso é conseguida de forma convincente, tanto pelo conteúdo musical como pela coerência interpretativa." BERNARDO MARIANO DIÁRIO DE NOTÍCIAS 14.07.2008)
 **** 4 ESTRELAS "O Sete Lágrimas, do[s] tenor[es] Filipe Faria e (...) Sérgio Peixoto, editou o CD Kleine Musik, projecto que cruza Heinrich Schütz (1585-1672) e Ivan Moody (n. 1964), compositor britânico residente em Portugal e que consistiu em cantar nove Kleine Geistliche Konzerte de Schütz e pedir a Moody que musicasse os mesmos textos (encomenda do Sete Lágrimas), procurando intersecções (reflexos em espelhos deformantes) de passado e presente e abrindo-se às confluências entre o luteranismo "temperado" pela Itália de Schütz e do modernismo eivado da música das igrejas orientais do próprio Moody. O resultado aí está, com a estreia absoluta das noves pequenas obras de Moody, sendo que duas delas são para cravo solo. O Sete Lágrimas conta, para lá do par de vozes citadas, com o concurso do soprano Ana Quintans e de um quinteto instrumental de bisel, oboé, gamba, violone e tiorba. Desafio ganho, na medida em que o acerto, beleza e propriedade das vozes, o ambiente das linhas instrumentais por trás e o contraste estabelecido entre as linguagens barroca e moderna funciona muito bem. Boa dicção do alemão (...). Som excelente." CRISTINA FERNANDES PÚBLICO, 21.12.2007 "Movimentos da Música Antiga: O panorama começa a movimentar-se em Portugal, multiplicando-se com novas iniciativas.
(...) o panorama da música antiga em Portugal começa a movimentar-se e a multiplicar-se em novas iniciativas. A maior parte deve-se à existência de uma nova geração de jovens intérpretes que se têm especializado no estrangeiro (...) mas não só. (...) O Sete Lágrimas Consort lançou o seu primeiro disco ("Lachrimae #1") na sua própria editora e tem sido responsável pela direação artística do Festival Terras sem Sombra no Baixo Alentejo, importante foco de divulgação de jovens intérpretes portugueses nesta área. (...)"

 IVAN MOODY
 COMPOSITOR E MAESTRO
 “Melancholy, as Dowland knew, may include an element of joy – a secular counterpart to the Greek word harmolipi, describing a spiritual state that consists precisely in experiencing «joy in sorrow». Tears, therefore, able to betray both sadness and joy, are a natural expression of this state; and seven of them (Sete Lágrimas – Seven Tears) recall the seven sorrows and seven joys of the Virgin, the seven last words from the Cross, and – why not? – the seven hills upon which both Rome and Lisbon are said to be founded. The tears encapsulated in the music recorded by this ensemble, centred around two young Portuguese tenors, were real enough, and reflect not only the tragic aspects of the life of Christ on earth, but also years of religious persecution. In other words, the tears are human. The beauty and refinement of the performances and the elegance of the recorded sound, as well as, most importantly, the sense of an internal tempo, paradoxically serve to record human weakness with something very close to perfection.” JEAN-LUC BRESSON
 LE JOUER DE LUTH (SOCIÉTÉ FRANÇAISE DE LUTH)
 “Le titre annonce d’emblée un climat poétique sans équivoque: «Larmes». Cet enregistrement regroupe en effet des pièces vocales et instrumentales présentant un lien direct avec ce théme. La composition de l’ensemble fait alterner de lentes polyphonies aux profondeurs abyssales et quelques pièces plus enjouées que l’on trouve en particulier dans deux suites de Corelli (Sonata da Chiesa n.º 7 et Sonata da Chiesa n.º 6). Les oeuvres réunies ici sont issues des répertoires français, italien et allemand. On y trouve des pièces de Giovanni Battista Martini (1706-1784), d’Archangello Corelli (1653-1713) et d’Heinrich Schütz (1585-1672). L’atmosphére qui domine évoque une poignante méditation déclinée selon différents modes, d’une oeuvre à l’autre. Dès les primières secondes, l’auditeur est saisi apr le climat emprunt de spiritualité qui domine l’ensemble. Il est invité à emprunter les voies d’une temporalité tournée vers l’interieur. Le temps s’écoule en longues plages sensibles. La pochette de ce disque montre la photographie d’un visage, surexposée au point de confiner à la plus parfaite blancheur. L’image conduit vers le blanc comme la méditation conduit vers le silence, ce silence qui émane des «limbes insondés de la tristesse» selon l’expression chére à Baudelaire. Si dans cet enregistrement la voix joue un rôle essentiel comme céhicule de l’émotion diffusée, elle est sotenue par de beaux accompagnements.” PEDRO BOLÉO
 CRÍTICO MUSICAL IN PÚBLICO, 01.06.2007 “De chorar por mais
 Duas boas notícias: a primeira é a estreia em disco de um projecto musical já com alguns anos actividade chamado Sete Lágrimas, um grupo que deu os primeiros passos em 2000, ainda com o nome L’Antica Musica. a segunda boa notícia é que, no mesmo gesto, surgiu uma nova editora a Mu Records. Este disco é sinal de uma capacidade de iniciativa de jovens músicos (neste caso dois tenores do Coro Gulbenkian) que deve ser saudada. Ainda por cima quando o disco «Lachrimae #1» é resultado de um trabalho musical cuidado, com algumas boas escolhas entre o repertório da música renascentista e barroca. As vozes de Filipe Faria e Sérgio Peixoto seguram com muita sensibilidade as linhas das polifonias de autores anónimos do século XVI e de peças de Giovanni Battista Martini (1706-1784). O conjunto instrumental cumpre bem a sua função, acompanhando as vozes, participando activamente na polifonia ou interpretando Sonatas e Corelli de finais do século XVII. Fica a sensação de que podia ir ainda mais longe na exploração tímbrica dos instrumentos e dar mais energia ao conjunto (mesmo se é um tom melancólico o que se procura em certas peças). Mas o resultado final é, sem dúvida, de muita qualidade.” MANUEL PEDRO FERREIRA MUSICÓLOGO E CRÍTICO MUSICAL “Neste seu primeiro CD, o grupo Sete Lágrimas oferece-nos uma confirmação da maturidade artística que a interpretação de música antiga alcançou em Portugal. Exemplo de sensibilidade e bom gosto, faz-nos esquecer que na sua base estão raras competências técnicas, adquiridas durante anos de esforçada aprendizagem. De facto, a música flui, judiciosamente equilibrada e fraseada, sem que os detalhes deixem de ser transparentes, oferecendo-se à degustação do ouvinte. As vozes fundem-se admiravelmente e os instrumentos revelam um entendimento plenamente partilhado. A proposta de repertório é, de alguma forma, ousada, não apenas por justapor melodias sobre traduções francesas dos Salmos, de Marot, cantadas em estilo de discante, a peças de Heinrich Schütz e belos, embora pouco conhecidos, responsórios do célebre padre Martini, mas também porque os tempos distendidos, convidando à contemplação, contrariam a pressa inconsequente dos tempos que correm. No livrete que acompanha o disco, lê-se que Dowland reivindica as Lágrimas como expressão não só de tristeza, mas também de alegria interior. É esta alegria que, lentamente, vai escorrendo deste disco, para ouvidos que a saibam recolher e ecoar.”

 JORGE MATTA
 MUSICÓLOGO E MAESTRO
 
“Afinação, fusão, sensibilidade contida, um hino ao bom gosto, um belo trabalho do grupo Sete Lágrimas. Apetece sentar, baixar a luz e, simplesmente, ouvir! Bravo!” FERNANDO ELDORO
 MAESTRO
 “Gratificante revelação de dois jovens cantores portugueses que decidiram apaixonar-se pela música vocal dos séculos XVI e XVII e transformá-la num acto milagroso.” BERNARDO MARIANO CRÍTICO MUSICAL IN DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 06.04.2007 “O disco é o primeiro da portuguesa Mu Records. Nele, o ensemble Sete Lágrimas [...] interpreta três motetes do católico Martini, quatro Kleine geistliche Konzerte, do luterano Schütz, duas Sonate da Chiesa do op. 3 de Corelli e três cânticos protestantes franceses (dois da calvinista Genebra). Combinação interessante de obras [...] e interpretações de bom nível, sobretudo nas peças francesas e nos motetes.” CRISTINA FERNANDES
 MUSICÓLOGA E CRÍTICA MUSICAL “Sob o sugestivo título Lachrimae #1, o programa do primeiro CD do Sete Lágrimas Consort percorre um período temporal que se estende dos finais do século XVI ao século XVIII onde se cruzam várias tradições e estilos musicais (francês, italiano, germânico) e a expressão ritual de vários credos religiosos (catolicismo, protestantismo) unidos por fios condutores evidentes ou subtis. O tema das lágrimas como expressão da dor, do sofrimento íntimo ou colectivo, da melancolia, da fé ou da intolerância religiosa estão implícitos em quase todas as épocas no contexto de criação de várias peças musicais ou no seu próprio conteúdo, atingindo uma expressão particularmente rica e tocante no período barroco. Por outro lado, a voz que canta (mas também chora) é um elemento primordial intrínseco à própria natureza da música, que é aqui entendida de forma abrangente estendendo-se à aspiração que conduziu compositores e intérpretes da época barroca a tentar igualar a eloquência da voz humana na música instrumental.”

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